quarta-feira, 21 de julho de 2010

Espelhos da Alma

ESPELHO 1
Detrás do meu espelho se adivinham
clandestinas miragens
sonhos inesperados
bonecos sem vida
mascarados na imagem
que de repente se animam
e gritam seu desespero de viver

ESPELHO 2
Vejo você no meu espelho
e reconheço cada traço
cada virtude
cada defeito
a mesma emoção
o mesmo sonho
a mesma impotência
o mesmo engodo
toda a ambição tomando o corpo
e a ambigüidade dizendo
como?

ESPELHO 3
Quem é você no meu espelho?
eu feito mulher?
um eu distinto?
ou o mesmo eu
num outro ser
pedindo a gritos
deixem-me ser eu!?
qual é a prisão
qual a grade
que nos encerra?
talvez o espelho
não seja só reflexo
e sim fronteira
muro infinito
que não me deixa pegar tua mão

ESPELHO 4
E se for espelho d´água
que apenas uma brisa acaba?
tambem minha mão
se for à tua procura
merguharia dentro de ti
arriscando sentir
frio morno ou quente
mas não indiferente
a verdade do teu ser
ou do ser meu...
ou do ser eu?

ESPELHO 5
Será que eu também
estou no teu espelho?
se tu és real eu sou espelho
porque onde teus olhos vão
os meus vão junto
e me sinto escravo desse olhar
doce escravidão de ser reflexo
cúmulo de narciso inconformado
que ama sua própria imagem acordado
e em sonhos por ela se vê amado

ESPELHO 6
Esse olhar perplexo me fascina
e feito reflexo sou escravo
olhos travessos que imaginam
ambíguas fantasias extraviadas
à destra e à sinistra
cada olho uma história
um mistério certo
e esse mirar de parecer perverso
vislumbro que me ama com o esquerdo
porém foge assustado com o direito
eu então reflexo aflito
corro atrás de ti mais uma vez narciso
desesperado para me achar bonito

ESPELHO 7
Se tu desse lado és mentira
que posso esperar de mim pobre reflexo
se por ventura tu és miragem
o que fazer comigo sem ter nexo
estende tua mão
pega na minha
mergulhemos juntos neste desespero
de espelhar a paixão
e não faze-la viva

ESPELHO 8
Espelho atrás de espelho
labirinto de reflexos intrincados
conjunção de fronteiras
espiral sem fim e sem começo
vivo te espionando do outro lado
e não consigo gritar quanto te amo

ESPELHO 9
Há um espelho entre nós
quem é real?
quem é reflexo?
se sou real
te quero real aqui ao meu lado
se sou reflexo
reflexo também te quero
deste outro
se os dois juntos
reais ou reflexos
não importa
pudermos enxergar o outro lado
talvez juntos
possamos escolher
se aqui ou lá
será possível
nos amar-mos

ESPELHO 10
Te flagrei no meu espelho
verdadeira
Raínha Má que pensei
que me cuidavas
e meu grito agudo
finalmente intolerante
fez cacos de narciso
e escancarou o muro de Berlim

ESPELHO 11
Cadê o meu espelho?
não tem mais lá?
não tem divisa?
não há reflexo?

Restou apenas o real
o por viver
o não vivido
restou apenas e por fim
o aqui e agora





Um comentário:

  1. Ora viva! O fraseador Tito Teijido não fraseia apenas com imagens, também tem coragem para impregnar de beleza e sensibilidade as letras. Que bela surpresa, Tito Teijido poeta.
    Josemir

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